NO CLARO E NO ESCURO
Decerto de olhos cerrados revejo
Não importa se dormindo ou acordado
E ainda que a efêmera visão seja varejo
A quimera em sonho vem no atacado
O sonho que se sonha é realizado
Mesmo porque nasce dentro do peito
E se não é realização de fato
Do coração já é de direito
Não há cárcere no belo pulsar
Existe liberdade ao resistir
E se a algema é o que faz libertar
Na masmorra do peito é possível sorrir
O sentimento é o alvará de insigne prisão
Que do ergástulo solitário faz desatar
Vence o mal, queda a solidão
Com o indulto prazeroso que é amar
Saudade é a presença que não partiu
Presença, a saudade que ficou
Quando na ausência o desejo resistiu
É porque o amor então se ratificou
O tempo não apaga o que é indelével
Quando a alma deseja ser para sempre
É o crime onde o esquecimento é revel
A lembrança como um rio perene
A vida permite o reencontro em arte
No resgate inexorável do que não foi vivido
E faz no coração um aparte
Para de verdade viver momento atrevido
O mundo é momento sublime
E o momento, supremo fato
Começa em claro beijo que amor exprime
E termina no escuro gostoso do quarto