DAS PALAVRAS QUE NÃO TE DISSE
Das palavras que não te disse,
talvez restem alguns silêncios...
E ainda que involuntários,
ferem como espadas indesejadas.
Cortam tão profundamente,
que já nem sei se fenecem a alma.
Olhe bem estes olhos,
sinta e perceba a lacuna de dor.
De tão forte e insuportável,
as vezes me parece tangível.
E consigo tocá-la...
Não me procure em algum passado,
hoje não me encontro naquele lugar.
Por não ser a mente agora
aquele necrópole contumaz de ontem,
acho que sobrevivi,
ainda que respire com o aparelho da desespenrança.
Do mal que fiz,
sou insolvente por algumas encarnações,
do que não consegui fazer,
resto remido em minhas penas perdidas,
talvez em dúvidas esquecidas.
Na luz fúlgida d'alma
encontrarei indulgência divina.
Não importa,
o perdão já habita este triste céu
que alguns costumam chamar de coração,
eu aprendi a dizê-lo humano...
Quando escutares o grito mudo destes olhos,
fala-me o que eu não consigo ouvir.
Quando sentires o toque seco de minha lágrima,
faça-me o carinho que não consigo oferecer.
Perdoe-me se eu não chorar,
talvez a lágrima deseje se esconder,
não por falta de motivos tantos
ou por vergonha imprecisa,
mas porque o corpo já secou
no deserto em que foi jogado o peito.
Sucumbiu em oásis inexistente,
decerto por esta coragem
que um dia eu aprendi a não ter.
Dai-me algo para beber,
meu espírito tem sede...
Quando só a saudade consola,
nem mais a esperança alivia.
Das palavras que não te disse,
sobrou apenas o silêncio teu.
Se tua voz é a herança do abandono,
minha solidão é o vácuo do que não fiz.
Sigo a trindade dos infelizes,
onde o passado mortifica o desejo,
o presente crucifica o peito
e o futuro mata a esperança.
Mas...
Das palavras que não te disse,
o coração nunca foi mudo,
das palavras que não te disse,
talvez reste algum lamento,
das palavras que não te disse,
entreguei um sincero mundo,
das palavras que não te disse,
vivi e morri em sentimento...
E se o muito de meu silêncio foi insuficiente,
talvez minha voz pouca seja desnecessária.
Tentarei,
para mim,
aprimorar poucas e singelas virtudes,
amenizando tantos e frágeis defeitos,
porque,
das palavras que não te disse,
eu sempre fui a melhor palavra!