Tarcisio Bruno
Das palavras que não te disse
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Textos

É PRECISO FAZER AMOR COM AS PLANTAS

 

" O tempo passa. Não nos diz nada. Envelhecemos.
Saibamos, quase maliciosos, sentir-nos ir.
Não vale a pena fazer um gesto. Não se resiste
ao deus atroz que os próprios
filhos devora sempre "    
- Ricardo Reis (Pessoa) -

 

 

Sempre me provoca alegria demasiada arrumar os livros na estante. É uma liturgia que me alimenta com a fome de beleza e o cuidado de quem ama. Mas a estante não é um local só para guardar obras e manuscritos. Nela, há espaço para muito, lugar para as coisas do peito. Decorações as mais diversas, fotografias, souvenirs e presentes, tudo ocupa seu espaço e provoca as mais belas recordações. Algumas indeléveis, como um livro que a gente nunca deixa de ler.
Uma vez caminhando pelas ruas centrais, ao passar em uma praça tinha uma feira de plantas. Lá encontrei algo que sempre achei muito lindo e ainda não tinha possuído: um Bonsai. A miniatura provocou-me o choque da estética sublime, o desejo de ter aprisionado a beleza livre. Não a prisão do cárcere que sufoca, mas a enxovia do cuidar. Comprei dois Bonsais para tornar mais bela a estante...
Algumas plantas necessitam de um cuidado especial, de uma compreensão de natureza e acolhimento de luz e água. Luz na medida que não cega e água no volume que não encharca! Eu fracassei cuidandos das plantas, pois não sabia o que fazer com o desconhecido, e elas sucumbiram.
As pessoas são como as plantas, precisam de luz e água, voz e ouvidos, e às vezes de silêncio. Ao fracassar com àqueloutras que encontrei na praça, há indulgência do desconhecimento. No campo das relações humanas, é preciso tentar aprender para entregar o ganho inesperado.
Já é crepúsculo, e a vida é muito curta para se ter medo da morte. O tempo passa, acelera, e nós que éramos árvores começamos a ser podados como Bonsais. Diminuímos, envelhecemos, e se não sabemos receber a luz do amor e água das lágrimas, somos devorados pelo tempo. É preciso fazer amor com as plantas, é preciso fazer amor com as pessoas.
Na estante da vida, você pode ter muitos livros, mas é preciso entender que há um livro de listas, aquele que você não termina, que você devora todas as páginas, que confessa seus segredos e escreve seus mais belos versos.
Seja acolhimento, levando luz para os maiores medos e sombras.
Seja ponte, para que alguém consiga atravessar as águas mais revoltas e turvas.
Saiba ser chegada, e se necessário, despedida.

 

 

"AQUELE QUE QUISER SALVAR SUA VIDA PERDÊ-LA-Á"
- Tarcisio Bruno -

Não tenho medo da morte
Desencarne do corpo
Vereda estreita da vida
E caminho inexorável dos mortais
À parte de um fim que inexiste
Tenho medo de morrer
Na falência da alma
E no desencanto do sorriso
Por medo de amar
E não se tornar imortal
A despeito da dor
Que é o caminho de quem vive
A morte tem estética na face da saudade
A despeito da falta de amor
Que é o atalho de quem não vive
Morrer é o encontro do medo e da solidão
Ah mulher
Não sofra o maldito e temível
Imaginando-o antes que aconteça
Transfigura a face do medo
Que o terrível não é a morte
É morrer em vida
Já que na beleza do paraíso do amor
“Quem perder sua vida encontrá-la-á”
E ao vencer o medo
Se descerra uma coragem
Que nunca se imaginou ter...   

 

Tarcisio Bruno
Enviado por Tarcisio Bruno em 11/03/2024
Comentários
Do vinho das lágrimas vem a sobriedade do riso
 
A despeito da dor,
à parte de toda tristeza
rasgada no peito,
as lágrimas insistem em sorrir...
Como uma ópera grega
em ode lírica da vida
que canta alegre a alma,
e por isso uma catarse que não corrompe.
De ausência em ausência
vou construindo quase sem forças,
a lembrança de um esquecimento
que ainda inexiste.
E se já o coração alheio
não o sinto,
perco a minha presença.
E o que me faz falta,
ontem não lembrei,
para hoje esquecer
e não ser sequer saudade,
pois o esquecimento é a luz
que a lembrança revela na escuridão do amanhã.
E só bebendo o vinho das lágrimas
É que se encontra a sobriedade do riso.