Tarcisio Bruno
Das palavras que não te disse
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Textos

 

Meu coração te amou antes de tudo,
até mesmo sem te ver,
porque te anteviu
e partiu bem antes de mim,
chegando onde eu já me encontrava...

 

 

 

DESTINO OU ACASO?

 

 

Há quase trinta anos escrevi uma crônica sobre o destino e o acaso. Procurei debalde o texto, mas lembro de algumas poucas assertivas. Tentarei escrever  o já foi dito, não reescrever, pois o passado não pode ser de novo vivido, às vezes até esquecido, noutras, jamais apagado, como um quadro eterno da memória.
A vida é uma estrada sinuosa, onde seguimos em um vagão  sem conhecimento das próximas estações. Muitos acreditam em um certo determinismo anterior, onde cada parada já está previamente determinada, como um bilhete adquirido antes com escalas e ponto final.
Já outros acreditam que a estrada segue seu caminho, e nosso trilhar (decisões e escolhas) é que moldam os encontros e despedidas, como tão bem canta Milton Gonçalves:


" São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida...
A hora do encontro
É também, despedida "

 

 

Quando estamos fazendo essa viagem pela estrada chamada vida, a maioria das pessoas passam por nós (ou nós passamos por elas?) como os postes em uma estrada, não as notamos, não as vemos, simplesmente passam, nada... Nada significam em termos de passionalidade, não de indiferença, que fique bem claro.
Todavia nessa caminhada existem pessoas que se fazem escalas obrigatórias. Obrigatórias no sentido de imposição de sentimento do acaso ou do destino, não de obrigação. Falo de filhos, pais, amigos e alguns familiares, que surgem na estrada para se fazerem morada no peito,  algumas indeléveis, outras despejos que se fazem necessários.


Pousa e não existo
Faz sentido, onde não estou
Vive e conhece o amor
Faz morada, onde não habito

 

Mas é no campo das relações amorosas que as estações são mais pulsantes e inquietantes. Encontramos e vivemos algumas pessoas na nossa viagem. Algumas viagens deixam as melhores lembranças, outras, simplesmente esquecemos  por motivos tantos. Há também a viagem de nossas vidas, onde a estação entrega o melhor vivido e o mais gostoso gozo, em todas as suas acepções. Não sei ao certo se é destino ou acaso, mas isso parece-me de pouca importância, pois o que deve realmente ficar não é a causa, e sim o efeito. O que deve permanecer não é como aconteceu, e sim o que aconteceu.  A vida permite muitos encontros, como uma passarela a desfilar, onde é preciso se despir e andar com a nudez d'alma para compreender o vestido vinho perfeito do verdadeiro amor. E o amor tem a sua face na lágrima que se compreende e que se faz abrigo, mas é preciso sair do espelho para ver, é mister caminhar sem medo.
Destino ou acaso são só duas palavras metafísicas, mas o amor é a melhor passarela, onde você decide ficar ou então parte para uma nova estação onde talvez não seja mais possível chegar.

 

" Meu Destino

Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procuraste –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos.

Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos
juntos pela vida... "
Cora Coralina

Tarcisio Bruno
Enviado por Tarcisio Bruno em 27/03/2024
Comentários
Do vinho das lágrimas vem a sobriedade do riso
 
A despeito da dor,
à parte de toda tristeza
rasgada no peito,
as lágrimas insistem em sorrir...
Como uma ópera grega
em ode lírica da vida
que canta alegre a alma,
e por isso uma catarse que não corrompe.
De ausência em ausência
vou construindo quase sem forças,
a lembrança de um esquecimento
que ainda inexiste.
E se já o coração alheio
não o sinto,
perco a minha presença.
E o que me faz falta,
ontem não lembrei,
para hoje esquecer
e não ser sequer saudade,
pois o esquecimento é a luz
que a lembrança revela na escuridão do amanhã.
E só bebendo o vinho das lágrimas
É que se encontra a sobriedade do riso.