Tarcisio Bruno
Das palavras que não te disse
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Poética

 

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
-  Vinicius de Moraes -

 

 

Às vezes é necessario morrer um pouco para
entender a vida.

 

 


AS INTERMINTÊNCIAS DA VIDA

 

 

Nesta tépida manhã de abril, ele caminha com seus versos como quem leva uma pessoa à estação das cidades esquecidas. Não chove e nem faz sol, o tempo é a dúvida da vida. A lágrima é a agua que faz viver, e a lembrança o sol que queima.
Há uma tristeza como bilhete para uma viagem à melancolia. Um espetáculo onde a catarse é o monólogo das desesperanças. e as dores só diminuem com as lembranças de instantes de felicidade perdidas, tentando consolar o que não consegue sequer ser alívio.
Saramago em sua maravilhosa obra " As intermitências da morte " ensina, como metáfora, que a morte é a mulher indispensável, e que jamais poderíamos viver eternamente. Talvez assim sejam os amores, talvez assim sejam as dores. A vida também precisa de suas interrupções. É preciso silenciar, refletir e buscar entender. A morte, como pausa, pode produzir vida.
As reflexões que surgem com os acontecimentos da vida, tristes ou alegres, têm a cátedra necessária para produzir elevação. Ninguém aprende sem viver, e os medos e oscilações precisam de enfrentamento. A intermitência da vida deve ser para entender os melhores passos, não para amputar os desejos e sentimentos e destruir estradas, mesmo que sinuosas, ainda que sem  horizonte definido. Não se consegue a paz simplesmente evitando a vida.
Na manhã que não faz calor ou frio, a temperatura é a batida do peito que busca os melhores caminhos. Como bem o disse Guimarães Rosa:

 

" Seguia, certa; por amor, não por acaso "

 

 

As estações são obrigatórias, os bilhetes não. Então procure e viva a viagem que te conduz ao inaudito, que te  faz parecer  tremer  a terra e entrega o melhor destino. Uma  mansidão e alegria, como o remanso onde o abraço faz dormir como melhor lençol. O abraço abrigo, pois, é o presente que a vida oferece depois de suas intermitências. Não sinta frio por escolha, o inverno já passou. É hora de receber tulipas.

 

O que é um coração ter
Se com amor já não o sente?
Pois morre sem saber
O peito que não ama simplesmente
E se amar é o que faz viver
Vive mais o peito ardente
Decerto sem saber morrer
Pois não morre quem ama eternamente

 

Tarcisio Bruno
Enviado por Tarcisio Bruno em 26/04/2024
Alterado em 26/04/2024
Comentários
Do vinho das lágrimas vem a sobriedade do riso
 
A despeito da dor,
à parte de toda tristeza
rasgada no peito,
as lágrimas insistem em sorrir...
Como uma ópera grega
em ode lírica da vida
que canta alegre a alma,
e por isso uma catarse que não corrompe.
De ausência em ausência
vou construindo quase sem forças,
a lembrança de um esquecimento
que ainda inexiste.
E se já o coração alheio
não o sinto,
perco a minha presença.
E o que me faz falta,
ontem não lembrei,
para hoje esquecer
e não ser sequer saudade,
pois o esquecimento é a luz
que a lembrança revela na escuridão do amanhã.
E só bebendo o vinho das lágrimas
É que se encontra a sobriedade do riso.